Este site usa cookies para melhorar a sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa política de privacidade. Concordar e fechar

Calcário corretivo ou fertilizante?


J.Demito

O calcário é universalmente recomendado como corretivo de acidez do solo. Esse posicionamento foi correto nos tempos que não se fazia gestão da fertilidade do solo para obtenção de altas produtividades. Esperava-se o problema aparecer para justificar a recomendação de calcário. Os métodos foram concebidos com foco no problema, alguns na acidez, na presença do Al3+ e outros na ocupação da CTC. Não se pretende com este artigo desqualificar os métodos de recomendação de calagem, mas restringi-los às condições de solos para as quais foram desenvolvidos. A pergunta que se faz é… por que esperar o problema aparecer para se fazer a recomendação? Ainda se encontram agricultores que esperam 5, 10 anos ou mais para refazerem a calagem. Quando se trata da pecuária a situação é mais alarmante, não é difícil encontrar áreas com períodos de 20 anos ou mais sem aplicação de calcário.

A culpa de longos períodos sem calagem não deve ser atribuídas aos agricultores e pecuaristas, afinal o calcário sempre foi recomendado como corretivo de acidez. Também não se deve atribuir a culpa aos técnicos, eles foram ensinados da mesma forma, os livros tratam deste conceito. A ideia não e gerar polemica, mas, ajustar o conceito da calagem, a ciência evolui e, infelizmente a propagação do avanço do conhecimento não acontece na mesma velocidade. No entanto, é preocupante e fica o questionamento… quanta produtividade o Brasil perdeu por não fazer calagem no tempo certo?

Sempre faço a seguinte pergunta: quantas vezes em uma mesma área o calcário deve ser recomendado como corretivo de acidez? Quando muito uma única vez, se for o caso. A partir de então, o calcário deverá ser recomendado como fertilizante, como fonte de cálcio (Ca) e magnésio (Mg), combinado ou não com gesso agrícola (fonte de enxofre). O importante, é sempre repor o Ca e Mg e manter a relação adequada. Não se trata de seguir receitas prontas, o solo não é um sistema estanque, mas sugere-se buscar a ocupação da CTC do solo considerada ideal. Os valores apresentados na Figura 1, são reportados nos livros acadêmicos e técnicos e, também ocorrem em fazendas com altas produtividades de grãos.

Não é necessário que o valor seja igual aos apresentados na figura acima, no entanto, quando os valores da análise de solo estiverem distantes, são estes os valores que devem ser colocados como meta a se atingir. O grande problema é que a maioria dos técnicos e proprietários rurais não fazem gestão da fertilidade do solo. Com muita frequência se encontra valores de H+Al no solo ocupando 50% ou mais da CTC. Esse problema é reflexo de erros na frequência e quantidade de calcário aplicado. Como já reportado, as recomendações são baseadas na correção da acidez. São raras as recomendações baseadas nos teores ideais de Ca e Mg no solo e/ou na porcentagem ideal dos cátions na CTC.

Quando aplicar calcário: em áreas agrícolas consolidadas o calcário não deve mais ser posicionado como corretivo de acidez, na verdade, a acidez deve ser evitada e isso será possível posicionando calcário como fertilizante. Fertilizantes NPK são aplicados anualmente, ou a cada cultura instalada. O objetivo é de se atingir o teor ideal no solo, compensar perdas e para repor o que foi a exportado via produção. Sendo assim, Ca e Mg devem ser aplicados seguindo o mesmo princípio. Portanto, deverão ser aplicados anualmente ou no máximo a cada dois anos (quando houver efeito residual).

O aumento da frequência de aplicação é mais importante no SPD e ILP, sistemas nos quais a aplicação será superficial e, doses elevadas de uma única vez podem gerar problemas. Além disso, a melhoria da eficiência dos sistemas de produção proporcionam aumento de produtividade e mais de uma safra por ano. Algumas regiões do Brasil já fazem três safras por ano agrícola, combinadas ou não com pecuária. Aumento de produção com maior extração e exportação exigem reposição de Ca e Mg com maior frequência. Definitivamente em sistemas de produção consolidados o calcário deverá ser posicionado como fertilizante, isso evitará a limitação do potencial produtivo das culturas utilizadas.

A reposição com intervalos menores evitará problemas. Recomenda-se a alternância a cada nova aplicação entre calcário dolomítico e gesso agrícola. Essa alternância é importante para manter a relação Ca:Mg adequada, porém a tomada de decisão deve ser tomada com base na análise de solo. Um fator importante neste conceito é que a calagem deverá ser acompanhada da aplicação de doses adequadas de nitrogênio, o qual deve ser aplicado na cultura do milho, na pastagem ou em outras situações para atender a demanda do sistema em uso. Além de auxiliar no ajuste da relação C:N do solo, o nitrato (NO3-) formado é um dos ânions que fará o deslocamento do Ca e Mg no perfil do solo, assim como ocorre com o sulfato (SO4-) fornecido via gesso agrícola.

Quanto calcário aplicar: o correto é recomendar Ca e Mg para manutenção dos teores ideais destes elemento no solo, e assim evitar o surgimento da acidez; o que se faz hoje na maioria das recomendações é o contrário, se faz a correção da acidez e por consequência se aplica Ca e Mg. Outro aspecto da calagem não ter foco nos nutrientes, é que, dependendo do tipo de solo, mesmo que haja correção da acidez, os teores ideais não serão atendidos, como exemplo cita-se os solos arenosos com baixa CTC. Assim sendo, a recomendação para atender Ca e Mg deverá ser baseada no teor de argila e na CTC do solo.

Resumo: em áreas agrícolas consolidadas o calcário deverá ser posicionado como fertilizante (fonte de Ca e Mg) e não como corretivo de acidez. Quanto maior a eficiência do sistema de produção maior será a eficiência dos fertilizantes aplicados e da calagem. Na maioria das propriedades a quantidade de calcário aplicada não atende o nível ideal de Ca e Mg.

 

Autor: Edemar Moro – Dr. em Agronomia/Produção Vegetal.

J.Demito

Posts relacionados


Algodão, ótima opção para o Tocantins

Tecnologia de precisão aumenta a produção de algodão. Após o auge de produção na década de 80, hoje o Tocantins ganha espa...

Agricultura familiar e cooperativismo x Tocantins

As principais cadeias produtivas do Brasil, como mandioca, milho e feijão, provêm agricultura familiar, que vem expandindo...

Você sabia que o Tocantins representa elevados ...

CESAR HALUM / Milho e o Tocantins: o grão que virou ouro O milho se tornou um grão raro e muito cobiçado não só no Bras...

Preços firmes do milho no mercado interno

Preços firmes e em alta devido ao menor interesse do lado vendedor em negociar, boa movimentação para exportação e falta d...

Brasil pode expandir área agrícola em 43 mi hec...

O Brasil deve responder por cerca de 18 por cento das exportações globais de grãos na temporada 2018/19 O Brasil, que resp...

Exportação de soja do Brasil deve fechar 2018 e...

Exportações de soja do Brasil devem fechar 2018 em um recorde de cerca de 82,5 milhões de toneladas As exportações de soja...