Algodão, ótima opção para o Tocantins
Tecnologia de precisão aumenta a produção de algodão. Após o auge de produção na década de 80, hoje o Tocantins ganha espa...
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Ao que tudo indica, a recessão ficou mesmo para trás, de acordo com economistas consultados pelo G1. Além da boa surpresa da supersafra de grãos, a inflação em queda e os cortes de juros melhoraram as perspectivas de que a economia brasileira finalmente conseguirá ganhar fôlego e entrar numa nova fase. O vai e vem de indicadores ora positivos, ora negativos em alguns setores, entretanto, retratam uma recuperação ainda oscilante e não disseminada, segundo os analistas, o que torna a retomada lenta e modesta, num cenário ainda marcado por fraca demanda e desemprego alto.
As projeções apontam para um crescimento forte da economia no 1º trimestre, puxado quase que exclusivamente pelo agronegócio, o que deve garantir que o país registre o primeiro PIB (Produto Interno Bruto) positivo após 8 trimestres seguidos de contração. No ano passado, a economia brasileira aprofundou a crise ao encolher 3,6%, marcando a mais longa recessão da história.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, estima que a economia deve ter crescido entre 0,7% e 0,8% entre janeiro e março, na comparação com o quarto trimestre do ano passado. Já as projeções do mercado variam de 0,4% a até mais de 1%. Para o ano, a maioria dos analistas continuam esperando um crescimento abaixo de 0,5%. Os números oficiais do PIB do 1º trimestre serão divulgados pelo IBGE no dia 1º de junho.
O grande empurrão neste começo de ano veio do setor agropecuário, que começou a tirar do chão aquela que deverá ser a maior colheita da história do Brasil. Segundo a última estimativa do IBGE, a safra deve crescer 25,1% neste ano, para 230,3 milhões de toneladas. Na primeira estimativa para a safra de 2017, divulgada em novembro de 2016, a previsão era de aumento de 13,9%. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima em 8,5% a alta o PIB do setor em 2017, após um recuo de 6,6% no ano passado.
A economista Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, calcula que a agropecuária pode ter registrado uma expansão até superior a 10% no primeiro trimestre, representando um impacto positivo de ao menos 0,7 ponto percentual na variação do PIB de janeiro a março.
“O primeiro trimestre parece ter sido um pouco anabolizado. Se não fosse a contribuição da agropecuária, teríamos uma contração no 1º trimestre ou quase uma estagnação”, afirma Matos, para quem o PIB do país cresceu 0,6% no primeiro trimestre e deverá avançar 0,4% no ano.
Apesar da contribuição da agricultura para a melhora no desempenho de outros setores, como balança comercial e produção de máquinas e veículos pesados, os analistas recomendam cautela para quem decretar o fim da recessão com base somente nos números dos 3 primeiros meses do ano. Segundo eles, ainda não está clara a retomada de outros setores em razão dos efeitos da herança estatística do forte resultado do 1º trimestre para os 3 meses seguintes.
As mudanças metodológicas efetuadas pelo IBGE na PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) e na PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), mudando significativamente os resultados de janeiro e fevereiro, também colocaram mais pressão e dúvidas sobre o resultado do PIB do 2º trimestre.
“Existe uma enorme chance de ter sido antecipada uma alta que será devolvida no 2º trimestre”, alerta José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que projeta um avanço de 1,2% no 1º trimestre.
O analista avalia, no entanto, que a economia brasileira ainda passa por um processo de estabilização, não podendo ser afastada a possibilidade de um PIB até mesmo negativo no 2° trimestre. “Estamos num processo de altos e baixos. O PIB ainda deve oscilar nestes 3 trimestres. A minha dúvida é se isso não será uma estagnação”, afirma.
A indústria, por exemplo, deve registrar PIB positivo no 1º trimestre, mas a queda de 1,8% na produção industrial em março veio pior do que o esperado, o que coloca pressão para o PIB do 2º trimestre. A despeito da recuperação de setores como o de produção de veículos, os indicadores continuam oscilando e a ociosidade permanece elevada, com taxa de utilização da capacidade instalada estacionada ao redor de 77%. Pesa ainda o encolhimento da construção civil, em meio ao abalo provocado pelo operação Lava Jato na construtoras e ao excesso de oferta de imóveis.
No setor de serviços, a queda de 2,2% em janeiro se transformou numa alta de 0,2% após o IBGE revisar a sua base de comparação. Mas os indicadores oscilantes de segmentos como comércio em meio ao alto endividamento das famílias e aumento do desemprego.
“Por conta da mudança metodológica, o PIB de serviços deve vir mais fraco no 2º trimestre e mais próximo de zero”, estima Matos, que projeta que o setor ainda deverá fechar o ano no negativo.
Para Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia e política da Tendências Consultoria, já há sinais de recuperação da economia por todos os setores e o único risco para um PIB negativo no 2° trimestre seria um avanço acima de 1% nos 3 primeiros meses do ano.
“Não será nenhum crescimento expressivo, mas já vai sair do negativo. Acredito que já dá para afirmar sim que o Brasil saiu da recessão. A dinâmica é bem razoável e podemos chegar ao 4º trimestre crescendo 2,4% em relação igual período de 2016”, afirma Ribeiro, que projeta alta de 0,5% do PIB no 1º trimestre e de 0,3% para o ano.
Os economistas concordam, entretanto, que somente os números do 2º trimestre poderão confirmar o fim, de fato, da recessão.
“Apenas o resultado do 1º trimestre não significaria uma saída definitiva da recessão. Mais importante é a sinalização para o restante do ano dada pela recuperação da confiança de consumidores e empresários, em conjunto com a queda da inflação e do juros”, afirma Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim.
Para Luis Fernando Castelli, economista da GO Associados, resta pouca dúvida de que a economia voltou a crescer neste começo do ano. “O problema são as sequelas que ficaram na economia. Temos ainda 14 milhões de desempregados, o que também atrapalha a retomada do consumo”, afirma o analista, que projeta alta de 0,9% no 1º trimestre e de 0,6% para o ano.
Na projeção do economista, uma melhora no mercado de trabalho só deverá acontecer a partir do 2º semestre, mas o país ainda deverá fechar o ano com taxa de desemprego acima de 13% e cerca de 13,8 milhões de desempregados. “Devemos fechar o ano com uma criação de cerca de 150 mil vagas formais, mas só deveremos recuperar o estoque de emprego perdidos a partir de 2021”, avalia.
Embora o rombo das contas públicas continue causando preocupação, a expectativa de aprovação da reforma da Previdência, segundo os analistas, abre caminho para a redução das incertezas e melhora da confiança, ainda que as mudanças no texto original já tenham reduzido em quase 30% a previsão de economia nos gastos com o pagamento de aposentadorias e benefícios.
“Muitos investimentos ainda estão represados por conta do cenário de incerteza”, lembra a pesquisadora do Ibre/FGV.
Para Alessandra Ribeiro, da Tendências, a taxa de investimento poderá fechar 2017 já no positivo, com uma alta de 2,2%. “Com a atual capacidade ociosa, não será ampliação de capacidade, mas sim retomada de projetos paralisados e de troca daquela máquina que já deveria ter sido trocada há 3 anos”, explica.
Do lado do consumo, apesar da inadimplência alta e da perda do poder de compra das famílias, a boa notícia vem da queda acentuada da inflação. “Estamos vendo ajustes salariais na casa dos 5%. Isso está dando um incremento real na renda”, destaca a economista.
Dados do salariômetro, da Fipe, apontam que em abril os reajustes salariais médios ficaram acima da inflação pelo terceiro mês seguido.
O cenário de juros em queda tende também a melhorar as condições de crédito e beneficiar a recuperação do consumo. “Apesar de 14 milhões de desempregados, cerca de 90 milhões ainda estão trabalhando. Com a volta da confiança e condição de crédito melhor a tendência é que voltem a consumir bens duráveis”, diz Castelli.
O entendimento geral dos economistas, entretanto, é que em meio ao colapso das contas públicas e baixo poder de compra do brasileiro, o impulso para a retomada dependerá mesmo do aumentos dos investimentos privados e estrangeiros. Em 2016, os investimentos caíram 10,2%, na terceira queda anual consecutiva, segundo o IBGE.
“A retomada só virá mesmo quando a taxa de investimentos começar a ficar positiva”, destaca Gonçalves.
A aposta geral é que, confirmada a expectativa de aprovação das reformas da Previdência e trabalhista, os investimentos ganharão impulso a partir 2018, beneficiados também por desembolsos dos projetos dos últimos leilões de energia e os da área do pré-sal previstos para o 2º semestre.
Apesar dos sinais promissores de melhora, há quase que um consenso de que a recuperação será mais lenta do que se gostaria e não desprovida de alguma turbulência em meio ao cenário político ainda conturbado.
“Foi uma crise muito aguda e vai ser uma retomada lenta. As projeções indicam que a gente voltará a ter o mesmo PIB de 2014 só lá por 2020″, destaca Castelli.
“Está melhorando, mas é aquela coisa: devagar, devagarinho. A demanda interna ainda está muito fraca. Esse é ponto”, resume Matos.
Fonte: G1
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