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Mais de 33% dos solos em todo o mundo apresentam degradação de moderada a alta. A principal causa, que vem preocupando cientistas de vários países e foi levantada pelo Painel Técnico Intergovernamental em Solos (ITPS), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é a má gestão do solo e da água. As consequências são erosão, perda da matéria orgânica e da biodiversidade, acidificação, salinização, compactação, poluição, inundações e impermeabilização dos solos.
Os dados constam no relatório sobre o estado dos recursos do solo do mundo (State of the World Soil Resources), da FAO, e foram ressaltados por Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, pesquisadora de solos e chefe-geral da Embrapa Cocais (São Luís, MA), na segunda-feira (19), no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília.
Na palestra, a pesquisadora abordou a importância do solo para a produção de água, alimentos, fibras, energia e serviços ambientais e mencionou as recomendações estratégicas das “Diretrizes Voluntárias para o Manejo Sustentável dos Solos”, também elaboradas pelo ITPS. Desde 2013, Maria de Lourdes Mendonça é a representante do Brasil e da América Latina e Caribe no painel.
A cientista lembrou o fato de que água e solo são recursos naturais não renováveis na escala humana e “indissociáveis um do outro”, além de interagirem diretamente com o clima, a biota e o mundo mineral. “São as bases de sustentação das civilizações desde o Neolítico, cerca de 10 mil anos antes de Cristo, quando o homem passou a domesticar as plantas e os animais, fixando-se às margens dos principais rios do mundo e dando origem à agricultura. Maus tratos a um recurso refletem diretamente em outros”, disse.
Sobre a agricultura, a pesquisadora disse que não se deve “crucificar” a atividade. “Produzir água de qualidade também é um atributo da agricultura. Mas a produção e a qualidade da água dependem fundamentalmente do sistema de manejo de solo utilizado. Além disso, a degradação do solo também contribui de forma decisiva para o aumento da quantidade de gases de efeito estufa que são emitidos para a atmosfera”.
A pesquisadora apontou alguns exemplos de práticas de manejo adequadas à melhoria da qualidade do solo e à manutenção de suas funções: a manutenção da cobertura do solo pelo plantio direto, a rotação de culturas, a promoção do aumento do conteúdo de matéria orgânica do solo e da infiltração da água e a preservação da biota do solo, bem como as tecnologias de gestão eficiente da irrigação, o uso racional de insumos, a fixação biológica de nitrogênio e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). “Essas práticas têm reflexos no aumento da produtividade agrícola e na mitigação de gases de efeito estufa, garantindo, dessa forma, sua sustentabilidade ao longo do tempo”.
Diálogos globais
Para deter a degradação dos solos, a FAO estabeleceu, em 2012, a Aliança Mundial para os Solos – AMS (Global Soil Partnership – GSP). A iniciativa colocou o solo no centro dos diálogos globais, observando as necessidades nacionais e regionais, envolvendo instituições e comunidades locais, e catalisando a coordenação de políticas públicas e investimentos em solos, além da governança de solos.
A aliança tem como principal órgão consultivo o ITPS, constituído por 27 especialistas de solos do mundo e estabelecido em 2013. O painel foi responsável pela descrição e implantação dos pilares da aliança e produziu contribuições para ampliar o conhecimento sobre solos, como a revisão da Carta Mundial de Solos, o relatório “Status of the World Soil Resource Report (WSRR)” e as Diretrizes Voluntárias para o Manejo Sustentável dos Solos.
Esses documentos podem ser consultados na página da FAO. Acesse aqui.
A participação da pesquisadora no ITPS trouxe articulações e resultados para a governança de solos no Brasil. A Embrapa vem trabalhando o tema e hoje tem em execução projeto especial sobre a governança de solos no Brasil, o PronaSolos, que deve avançar para uma política pública nacional. O projeto também foi mencionado por Maria de Lourdes Mendonça durante o Fórum Mundial da Água.
Fonte: AgroLink
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