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Desde o início do ano o brasileiro sentiu no bolso o aumento de preços em diversos produtos agrícolas. O valor total da cesta básica subiu, em média, 8,32% nas capitais brasileiras no primeiro semestre de 2016, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A crise econômica nacional, no entanto, não foi o principal fator a inflacionar a alimentação do brasileiro. Os reajustes refletem um fenômeno muito maior: a mudança climática global, que altera de maneira extrema elementos essenciais para a produção de alimentos como temperatura, pluviosidade, umidade do solo e radiação solar.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que a produção de grãos da safra de 2016 deve cair em relação a 2015 devido à influência do fenômeno El Niño. A queda na nova safra deve ser de 0,4% para soja, 11,6% para o arroz, 8,4% para o feijão e 14,1% para o milho. O impacto climático na produção nacional gera a retração que onera ainda mais o preço final para o consumidor.
“O aquecimento global vem transformando os eventos climáticos, deixando-os mais rigorosos. Isso afeta diretamente a produção agrícola, que depende de condições específicas para garantir as safras”, afirma Guilherme Karam, coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que atua na agenda climática brasileira há mais de 10 anos.
El Niño, agricultura e o aquecimento global
O aquecimento global tornou o El Niño — fenômeno climático associado com o aquecimento das águas do Pacífico entre dezembro e fevereiro — mais intenso neste ano, prejudicando a produção no campo em vários países, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
No caso do Brasil, o El Niño ocasionou seca nas regiões Norte e Nordeste, e aumentou o volume de chuvas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Rio Grande do Sul, algumas áreas ainda estavam alagadas no fim de dezembro, o que atingiu diretamente a produção de arroz. Os dois principais estados produtores de feijão também sofreram os efeitos do fenômeno. Minas Gerais teve um veranico intenso no ano passado e o Paraná, fortes chuvas no período de colheita do grão.
Dados da National Aeronautics and Space Administration (Nasa) indicam que, no primeiro semestre de 2016, a temperatura da terra foi 1,3 grau Celsius mais alta do que no fim do século 19. Esse dado é alarmante, pois o mais recente acordo climático, que está em vias de ser ratificado, indica que a temperatura global deve aumentar, no máximo, 2ºC, com esforços para que não ultrapasse 1,5ºC. Este seria o limite máximo para se manter, com segurança, a vida humana no planeta.
“Para minimizar os impactos desastrosos das mudanças no clima é preciso que cada agente assuma a sua responsabilidade. Os governos devem criar e fazer cumprir novas políticas públicas direcionadas a uma economia de baixo carbono; as empresas precisam reduzir as emissões de gases de efeito estufa em seus processos produtivos e os cidadãos devem fazer um uso racional dos recursos naturais e pressionar os demais atores para que se cumpram ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas globais”, explica Karam.
E finaliza, “medidas para a adaptação a este novo cenário devem ser uma prioridade. Dentre elas, a conservação de ambientes naturais está entre as estratégias mais efetivas para se reduzir os impactos sociais ocasionados por eventos climáticos extremos, tais como grandes períodos de estiagem e chuvas intensas”.
Fonte: Agrolink
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