Durante as últimas safras, o laboratório da UFMT recebeu amostras de outros estados e, segundo a pesquisadora Maria Aparecida Caneppele, doutora em Ciências Biológicas, a soja produzida aqui apresenta, em média, 37% de proteína e 20% de óleo, quando o padrão estabelecido para a indústria é de 8%.
Em comparação com a soja produzida nas lavouras norte-americadas, as vantagens são ainda maiores, segundos os pesquisadores. Em média, os grãos cultivados em Mato Grosso têm 3% a mais de proteína e 2% a mais de óleo. Segundo o estudo, a escolha das variedades influencia na composição nutricional do grão.
A pesquisa também revela que os grãos ardidos, que são assim chamados por estarem úmidos, já em processo de fermentação, mesmo avariados continuam com alto teor de proteínas e ainda podem ser usados pela indústria. Pelo aspecto aparentemente ruim, o material recebe descontos na hora da classificação nos armazéns, no entanto, quando vai para a máquina de testes, a análise de proteínas e óleos é satisfatória.
Entre os produtores, a queixa é a falta de remuneração por esses grãos ruins, que são descontados das cargas que saem das lavouras, mas ainda são usados pela indústria, de acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho em Mato Grosso (Aprosoja), Endrigo Dalcin.
“O produtor fica no prejuízo e a gente sabe que as trades e as empresas compradoras utilizam essa soja, fazem o ‘blend’ que chamam para fazer ração e óleo e até para exportação dentro do limite aceitável. Estamos tentando fazer uma modificação no processo de classificação brasileira de grãos, na parte de soja. Levamos algumas propostas de alteração ao Ministério da Agricultura junto à câmara setorial para que realmente o produtor possa ser remunerado por essa soja com a qualidade inferior visual”, afirmou.